Ela chegou muito cedo à estação de trem. Estava vinte minutos adiantada, então se sentou em um banco e refletiu sobre tudo que acontecera. Em seus dezoitos anos de idade Cristina não vivera tantas emoções quanto nos últimos meses. Conheceu Luís há dois anos, num jantar que seu pai ofereceu aos funcionários da empresa em que trabalhava. Um deles se destacou: um moreno de sorriso acolhedor que no inicio fora apenas um amigo, mas aos poucos a amizade se transformou numa paixão incontrolável. A mãe se desesperara e o pai não aceitava de modo nenhum. O que para Cristina significava amor para os pais era pedofilia. Será que realmente aqueles quinze anos que os separava era um empecilho? Para Luís nunca foram, ele sempre dizia:
- Nós dois temos a mesma idade de alma, o resto é só envelhecimento do corpo. – e a abraçava daquele jeito que a fazia esquecer o mundo a sua volta.
Depois de dez minutos de espera ele chegou, com aquele mesmo sorriso que a enfeitiçara. Cristina levantou-se e segurou suas mãos. Depois de beija-la ele perguntou:
- Tem certeza de que é isso que você quer?
- É a única coisa que eu quero... Depois de dezoito anos presa ao preconceito e opiniões hipócritas de meus pais talvez eu finalmente possa respirar sem sentir-me um Judas.
Ele simplesmente a abraçou. Naquele ano Luís se sentiu importante e deu importância a alguém como nunca acontecera antes. Para ele, Cristina era uma luz, um presente da vida; no inicio tentou reprimir aquele sentimento, por medo do que aconteceria se os pais dela descobrissem, mas afinal não conseguiu esconder o que sentia. Tentou convence-los de que ela só a trataria bem, que a amava, mas eles só diziam que ele era “muito velho” para a “filhinha” deles. Luís sabia o quanto ela sofria com a não aceitação dos pais, o quanto ela tentava mostrar-lhes que a idade não conta no amor.
Compraram as passagens para onde a paz parecia estar instalada, abraçados ele olhou nos olhos da garota e perguntou:
- Pronta para recomeçar?
- Estou com medo do que acontecerá daqui para frente... – ela respondeu apondo o rosto em seu peito forte.
- O futuro não pode ser pior que o passado. Vamos viver só o presente, ok? – ele respondeu segurando o rosto de Cristina entre as mãos e beijou-a.
- Eu confio em você. – foi só o que ela conseguiu dizer.
Entraram no ônibus e sentaram-se lado a lado. Ela deitou a cabeça em seu ombro e finalmente respirou tranquila. Haviam vencido todas as barreiras e agora estavam ali. Naquele momento nada mais importava. Mesmo que o mundo desabasse, eles estariam juntos. Isso bastava.